quarta-feira, 15 de junho de 2011

Club Atlético Peñarol, um clube irmão

por Júlio 
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Imagine, caro leitor, a seguinte situação: Você é um jogador profissional,capitão da equipe. O jogo que se desenrola acontece no principal estádio de seu país, local que sempre considerou um verdadeiro templo de fé. Lotado, a torcida em polvorosa. Os times que se digladiam são muito bem conhecidos por você. Um deles é a seleção de sua terra natal. O outro, um clube que passou a amar e a respeitar absolutamente.

Pense que o manto que veste não é o de sua pátria, mas sim o deste clube, e que com esta camisa, suada por verdadeira garra, marque o gol da vitória de sua equipe contra a de seus conterrâneos, calando por breves segundos a todos presentes, até que uma majestosa salva de palmas rompe gradativamente o silêncio sagrado.
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Agora, amigo, deixe de imaginar. Isso foi real. E ilustra bem o dom de se vestir uma camisa como se fosse sua pele.

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No dia 11 de maio de 1974, há exatos 37 anos, o São Paulo entrou em campo no estádio Centenário de Montevidéu. Encarou a fortíssima seleção do Uruguai que se preparava para a Copa do Mundo daquele ano. Casa cheia, 55 mil pagantes, mais de 70 mil torcedores presentes no total. Vitória são-paulina por 1 a 0, tendo a equipe Tricolor terminado o jogo com um homem a menos - Gilberto fora expulso.
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O gol da épica vitória veio de jogada entre dois uruguaios que não defendiam a Celeste Olímpica na ocasião, mas sim o Tricolor do Morumbi. Pablo Forlán passou a Pedro Rocha que avançou cara a cara com o goleiro, e guardou.
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O uruguaio Pedro Rocha marcando um gol pelo São Paulo,
em amistoso contra a seleção de seu país, em 1974
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O texto acima faz parte da matéria "Sangue Celeste, Alma Tricolor", uma homenagem do site oficial do São Paulo F.C. aos bravos uruguaios que defenderam o manto tricolor.
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Foram 17 no total, conforme a lista abaixo:
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ACOSTA (Graciano Acosta Torres) - Volante (1937 a 1938)
AGUIRRE (Diego Vicente Aguirre Camblor) - Meia-atacante (15/06/1990 a 14/09/1990)
ARMIÑANA (Emilio Armiñana) - Meia (1930 a 1931)
CARRASCO (Juán Ramon Carrasco Torres) - Meia (11/06/1990 a 31/12/1990)
DARÍO PEREYRA (Alfonso Darío Pereyra Bueno) - Zagueiro, Volante, Meia (20/10/1977 a 09/10/1988) Técnico de 20/04/1997 a 11/02/1998
FORLÁN (Pablo Justo Forlán Lamarque) - Lateral direito, Zagueiro (18/04/1970 a 09/04/1976) Técnico de 30/05/1990 a 10/10/1990
FURTEMBACH (Ruben Alfredo Furtembach) - Lateral esquerdo, Zagueiro (01/05/1985 a 31/07/1986)
GUTIÉRREZ - Meia-direita (1936)
LUGANO (Diego Alfredo Lugano Moreno) - Zagueiro (2003 a 2006)
MATOSAS (Gustavo Christian Matosas Paidón) - Meia (1993)
PLATERO (Ramón Platero) - Técnico de 11/05/1940 a 22/12/1940
PEDRO ROCHA (Pedro Virgílio Rocha Franchetti) - Meia-esquerda (21/09/1970 a 24/09/1979)
RAMÓN (Ramón Vicente Jesus) - Volante (11/1941 a 31/08/1942)
ROSS (Conrado Ross) - Técnico de 07/03/1942 a 08/05/1943
SQUARZA (Herculano Romulo Squarza) - Zagueiro (12/04/1940 a 12/04/1942)
URRUZMENDI (Eusebio Urruzmendi) - Atacante (1951)
VEGA (Apparicio Vega) - Atacante (1934 a 1935)
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Quatro deles tornaram-se ídolos: Darío Pereyra e Diego Lugano, os dois com passagem anterior pelo C. Nacional F.; e Pedro Rocha e Pablo Forlán - os heróis da épica partida descrita acima, no estádio Centenário, de Montevidéu -, ambos vindos do nosso clube irmão, o C.A. Peñarol. Por coincidência, o atual técnico do C.A. Peñarol também teve uma rápida passagem pelo São Paulo F.C.: Aguirre, que ficou apenas três meses, em meados de 1990 (o segundo da lista acima).
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Por isso, em gratidão aos jogadores desse clube irmão, desejo boa sorte ao C.A. Peñarol na partida de hoje no mesmo estádio Centenário, essa casa uruguaia e tricolor.

6 comentários:

Leonardo André disse...

Mas que bela postagem!

João Paulo Fagundes Ledo disse...

Bonito texto!
Parabéns.
Pena que o Peñarol enfretará o Santos e levará bucha igual ao irmão nos dois últimos paulistas.

Roger disse...

Destaco aspecto interessante mencionado no texto: "o manto como segunda pele". Considero essa uma questão muito curiosa, que merece atenção por parte dos boleiros prosadores. Para delimitar a problemática, imaginem o seguinte contexto: Santos FC na final da Copa Libertadores da América, que desde as quartas de final é o único representante brasileiro na competição. Desse modo, seria lógico pensar que os demais torcedores dos outros times que encerraram suas participações no certame e mesmo aqueles que nunca participaram (e nunca participarão) simpatizassem e torcessem pelo único representante brasileiro, certo? Errado!
Percebam que ao expor meu exemplo, entre parênteses cutuquei a ferida dos torcedores de um grande time brasileiro, inúmeras vezes campeão brasileiro e regional, mas nunca teve o mesmo êxito em competições internacionais. Com isso, relativo às torcidas, quero dizer que a rivalidade supera e está acima da nacionalidade, onde alvinegros são sempre desejos pelo insucesso do time rival, seja alviverde, rubro-negro, tricolor, etc. mesmo em decisões internacionais, cortejando até mesmo portenhos, cuja rivalidade com os tupiniquins é muito forte.
Em se tratando de jogadores, suspeito que a vontade de jogar é motivada pela não convocação dos mesmos para aquele selecionado nacional...
Assim pergunto aos boleiros blogueiros, essa rivalidade, que está acima da nacionalidade, tem paralelo em outros países, ou é um comportamento arraigado em nosso Brasil baromil?

Lelezinho disse...

Na minha modestíssima opinião, vale para outros países também...Quando fui ao La Boca, na Argentina, para visitar o La Bambonera, acabamos almoçando numa simpática cantina por lá. Nunca vi tantos posters e quadros de zoação com os eternos rivais, River Plate, que lá são conhecidos como galinhas...rs
Por isso eu citei os Nuer no meu texto, a rivalidade local é sempre maior, no entanto, em momentos de ataque ao local, há uma união. Quando a seleção argentina enfrenta o Brasil é outra coisa, se eles fazem um gol, não duvido que um torcedor do River abrace outro do Boca...Mas a base da rivalidade, do pertencimento é sempre a local...não sei se concordam...

Júlio disse...

Caro Roger, ótimas observações! Para responder sua pergunta preciso fazer uma pesquisa. Na certa a resposta virá em forma de nova postagem.Por enquanto, acredito que isso não seja exclusivo do nosso Brasil.

Quanto aos jogadores, creio que o empenho no jogo revele, de fato, a seriedade destes atletas e (como afirma o site do SPFC) amor a camisa tricolor. A hipótese de rancor por uma possível não convocação pode ser descartada, pois os dois jogadores disputaram a Copa do Mundo de 1974 pela Celeste.

Curiosamente, há uma história sobre um jogador brasileiro que viveu situação semelhante, mas não se sentiu a vontade para jogar contra a seleção canarinho. Vou resgatar essa história e colocar na mesma postagem.

Abraço!

Eduardo disse...

Muito bom o texto, esse resgate histórico.
Mais como o meu Santos tambem teve um grande goleiro Rodolfo Rodrigues, ele vai gostar do nosso titulo...Tri-Campeão da libertadores.. Um Abraço