por Júlio
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Saudações tricolores!
O jogo desta noite, pela final do mais importante campeonato do continente sulamericano, reúne comandantes que possuem algo em comum: Aguirre e Muricy, além de terem jogado no São Paulo F.C., também são discípulos do Mestre Telê Santana. O primeiro jogou pouco no São Paulo F.C., mas aproveitou para fazer um estágio com o Mestre; já o segundo - todos sabem - começou sua carreira de treinador como auxiliar de Telê e comandou o "expressinho", espécie de time reserva de ótima qualidade que o São Paulo F.C. tinha o privilégio de contar para disputar campeonatos simultâneos nos anos de 1990.
Telê fez do São Paulo F.C. o melhor time do mundo em 1992 e 1993. Sim, o melhor. Pois ganhar título é muito importante, mas ganhar e provar que é o melhor é outra coisa. Por exemplo: em 2005 o tricolor foi campeão mundial. Conquistou o título, o que concede todos os méritos a equipe. Mas era o melhor time do mundo? Creio que não. Haja vista a pressão que sofreu do Liverpool F.C. durante os 90 minutos, com brilhante atuação de Rogério Ceni e uma arbitragem impecável. Já em 1992 e 93 não, o time ganhou quase tudo que disputou, e mesmo contra as grandes equipes européias era superior.
Pois bem, os dois treinadores lembraram de Telê em suas entrevistas ao globoesporte.com, na ultima quinta feira. Diego Aguirre disse: "Também aprendi muito como pessoa. O Telê era um ser humano fantástico, que sempre tinha uma palavra certa, uma orientação a passar. Cuidava dos seus jogadores em todos os aspectos. (...)Ele sempre gostou do futebol bem jogado, do toque de bola. Não admitia jogador errar passe. Era muito rígido com relação a isso, com razão, evidentemente".
Muricy Ramalho completa: "Todo mundo que trabalhou com Telê só guarda ótimas lembranças. Para mim, ele significou demais. Foi como um pai, um professor mesmo."
Infelizmente, as equipes de seus discípulos (e não estou falando só das equipes que disputam o título hoje, mas as que já foram comandadas pelos técnicos) ficam distantes do objetivo do Mestre. Não se pode negar, porém, que são bons treinadores.
O mineiro Telê (1931-1996) foi um jogador aplicado. Jogou na ponta direita, mas também ajudava na marcação. O "Fio de esperança", como era chamado, jogou 557 partidas pelo tricolor das laranjeiras, e honrou a camisa. Dizem que já no final de sua carreira como jogador, jogando pelo Madureira E.C., marcou o único gol desta equipe contra o Fluminense F.C., que marcou 5. Apesar de seu gol não ter influenciado em nada no resultado da partida, Telê chorou ao final do jogo por ter marcado contra seu clube do coração.
Como técnico, suas equipes tinham que mostrar um futebol diferenciado. O Mestre defendia o futebol bonito, seu objetivo era a perfeição técnica - uma das coisas que mais o irritavam eram os erros de passe. Para tanto, era exigente nos treinos e com a postura profissional dos atletas. Preferia perder jogando bonito, que "ganhar a qualquer custo". Lembrem-se da fantástica seleção brasileira na Copa de 1982, uma das melhores que o Brasil já teve, a ser comparada com a de 1970. No entanto, voltamos da Espanha sem o título.
Já no São Paulo F.C., de 1990 a 1996, Telê viveu sua melhor fase como técnico. Conquistou dez títulos, dos quais se destacam o Campeonato Brasileiro de 1991, duas Copas Libertadores da América e dois Campeonatos Mundiais Interclubes, em 1992 e 1993.
Está na pág. 28 da Revista Placar (no. 1078) de dezembro de 1992, ao falar sobre os heróis da conquista do primeiro título mundial do tricolor:
A cada vez que se dirige ao banco de onde comanda o São Paulo a suas mais importantes conquistas, o técnico Telê Santana da Silva, 61 anos (26/7/31), mineiro de Itabirito, recebe uma saudação digna de seus melhores tempos de ponta no Fluminense, nos anos 50.
Na Placar (no.1089-B), de dezembro de 1993, o belo texto de Juca Kfouri fala do caráter do Mestre:
...nem bem ganha um título e Telê já está protestando. Será Telê insaciável? Seguramente, não. Telê é, isso sim, um apaixonado pela coisa certa no futebol e não pode ficar feliz ao conviver num mesmo mundo que abriga Ricardo Teixeira e Eduardo Farah. Por isso Telê reclama. E quando vê calada a voz de seu próprio clube, do clube que ele ajudou tanto a levar ao bicampeonato mundial, Telê se exaspera, não se conforma, e chia, e ameaça, e extrapola. E está certo. Porque, no dia em
que todos os grandes profissionais do nosso futebol adotarem a mesma posição, não caberão mais os Caixa-d'água, os caixa dois, os Ricardo Teixeira. Telê não é apenas (apenas?) o mais vitorioso técnico do futebol mundial na atualidade. Ele é um apóstolo da coisa certa e, convenhamos, só pode mesmo enlouquecer por ser obrigado a conviver com os amantes da coisa errada.A missão de Telê não se limita a ganhar taças, o que sabe fazer como ninguém. Mestre Telê quer um futebol organizado e decente, troféu que se um dia puder carregar será, sem dúvida, o mais precioso de todos
É por isso que a torcida tricolor, desde 1990 até hoje, 21 anos depois, em todos os jogos, logo após gritar o nome de cada jogador em campo e do técnico atual, continua cantando: "olê, olê, olê, olê, Telê, Telê..." Assim ele permanece ocupando seu lugar.
No jogo desta noite no Pacaembú, um de seus discípulos será campeão da Copa Libertadores da América. Seja quem for o vencedor, torço apenas para que a partida seja totalmente diferente da primeira, onde se viu inúmeros passes e finalizações erradas. Torço para que a partida, embora muito difícil, seja bem jogada, com futebol bonito. Que seja digna de uma final de Libertadores e dos ensinamentos do Mestre Telê.
____________________Aqui uma homenagem do Esporte Espetacular a Telê Santana, exibida em 2006.
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Um comentário:
- PUTAQUEOPARIU!
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