sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crônica de um espetáculo

por Julio Canuto



Amigos Ordinários, quer sejam escritores ou leitores.

O futebol não se resume a vitórias e derrotas, mais pontos, menos pontos.

Futebol é espetáculo, é drama. Pode nos deixar felizes, orgulhosos, decepcionados ou tristes. Emociona!

O grito das arquibancadas, os palavrões, as gozações, a paradoxal aproximação da nossa mais primitiva irracionalidade com a genialidade artística, a sofisticação do espírito.

Num mundo demasiadamente regrado, competitivo, do bussiness, a arte também acaba contaminada - consequentemente o futebol. A análise por números e estatísticas afastam-se do óbvio, cobrem nossos olhos para o que realmente importa. Concordo com Nélson Rodrigues - que nos visitou esta semana - quando disse que esses "analistas esportivos" deveriam ser levados pela carrocinha.

O óbvio é o humano em sua essência. O demasiado humano. Óbvio, para o qual nos dizemos craques.

Amigos santistas, não se sintam incomodados com o placar do jogo, ergam a cabeça, pensem no espetáculo que foi visto, as grandes jogadas de ambos os lados. E já que vocês não escreveram uma mísera linha torta sobre o épico Santos x Flamengo da ultima quarta, na Vila mais famosa do mundo, deixo um belo texto do Xico Sá, publicado na Folha de S. Paulo, e que fala sobre os espetáculos, amores e pênaltis perdidos.

O PÊNALTI E O AMOR


Um homem fragilizado pelo amor não pode bater um pênalti. Daí o esnobismo da cavadinha


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, um homem fragilizado pelo amor jamais pode bater um pênalti. Qualquer criatura que amou sabe, pelos olhos do Elano, que a vida o traíra na curva, que o destino o impusera uma bola nas costas.


Desde a Copa América. Os times, as seleções, carecem de alguém, não obrigatoriamente psicólogo, mas alguém que tenha amado o suficiente para reparar nos olhos marejados de um homem.


O fim do amor exige quarentena. Para qualquer ofício. Para um jogador, ainda mais. Elano, não importa quem pingou o ponto final no romance, vem de um "the end", os créditos fatais do melodrama.


Evidentemente, caro botafoguense Paulo Mendes Campos, que o amor acaba. Em qualquer café, em qualquer esquina. Um boleiro que vem de um final de enlace, porém, jamais deve bater pênalti.


Daí o esnobismo da cavadinha. Um homem que sofre de amor quer mostrar que nada passa. Quantas vezes não me exibi dessa forma, bem longe das quatro linhas.


Eu te compreendo, bom Elano. Foste sempre grande, não gênio, mas no exercício de uma regularidade necessária para que muitos brilhassem.


Não preciso te cantar aquele samba com o Noite Ilustrada, sabe, "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Nada é assim tão simples.


O amor, o drama familiar, essas coisas carecem de um único remédio na farmacinha caseira: o tempo. Que sejas feliz, meu rapaz, inclusive batendo pênaltis.


Elano, tem dia que de noite é inacreditável. Comentaremos até o juízo final sobre a quarta derradeira. O que foi aquele Santos 4 x 5 Flamengo?


Nem vi à queima-roupa, revi no videoteipe, ocupado que estava com as artes amorosas, flanêur pela cidade. Nem um jogo, mesmo fim de Copa, vale por uma entrega nos braços macios das raparigas.


Por onde passei, todavia, do Belenzinho à Augusta, não se falava de outra coisa em SP. Minto. Falava-se, na sinuca do Bahia, de outro belo embate: Coritiba 3 x 4 São Paulo. Que classe, Rivaldo, a discreta elegância de quem não cai no conto da comemoração do joão-bobo global. O gol é dele mesmo. Assina, rapaz, não deixa na conta do boneco.


Voltemos ao melhor das Américas, o Santos F.C., capaz de ressuscitar o genial Ronaldinho . É preciso, amigo, ter do outro lado um Neymar para que as artes, o conjunto da obra-prima, se completem nas prateleiras do cocoruto. Como foi lindo. Parabéns, Santos, parabéns, Flamengo.


http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/


2 comentários:

Leonardo André disse...

Caraca, como pode ser poética uma partidade de Futebol!

Beto Tristão disse...

Porra, boa julhao.....mt boa velho.
mandou bem colocando o texto do chico.