por Julio
Esta semana ando sem tempo para escrever. Mas hoje, no Ordinário Futebol Clube, a data não poderia ficar no 0 x 0: 100 anos de Nélson Rodrigues! Abaixo um texto de Xico Sá publicado em seu blog na Folha de S.Paulo no domingo, 19/08.
Saudações Tricolores! (hoje do Tricolor paulista e do Tricolor carioca).
19/08/2012
por Xico Sá
Foi de Nelson Rodrigues, não do coitado daquele bandeirinha, o erro mais lindo da arbitragem deste ano.
Foi, no mínimo, uma homenagem involuntária.
O que permitiu a vitória do Peixe sobre o Corinthians, o todo-poderoso, que não carece ganhar mais nada neste ano, papou até a Libertadores. Parabéns, amigos campeões da América.
Mas o erro foi lindo. Incrível. Nunca vibrei tanto. Um erro triplo. Se o videoteipe era burro, tio Nelson, o tira-teima global é um jumento.
Todo mundo viu, mas todo mundo viu errado.
Claro que não foi impedimento. Nunca. Jamais. Se haviam três avançados, alguém teria alguma razão moral para empurrar a pelota para dentro do gol do visitante.
Coube ao menino André, ali criado, o épico. O gol mais difícil do ano. Porque até um cego veria o impedimento. Se não viram, foi um milagre contra a mobralice dos tira-teimas e dos idiotas da objetividade.
Ai está a grande maravilha do futiba. Cheguei até a pensar que o bandeirinha havia confundido as camisas alvinegras. Tem uma delas que sempre é favorecida pelos árbitros.
Deixa quieto.
Confesso que estou emocionado, comovido e vou celebrar o resto do ano. Semana comemorativa no blog. Talvez a semana mais importante do ano, do século, do milênio. Daqui a três dias tio Nelson faria 100 anos. Faria não. Fará. Está mais vivo do que nunca.
Viva Nelson Falcão Rodrigues, o tarado –como gritaram seus detratores. Todas as peças foram vaiadas na estreia, menos “Vestido de Noiva!”, que agora está de volta com “Os Satyros”, em SP. Se eu fosse você não perderia nunca.
O recifense mais olindense de todos os tempos. Só lembrava, priscas eras depois, do mar de Olinda como reminiscência. Ele morou lá por uns meses.
Nelson chegou tão cedo ao Rio mas levou de Pernambuco o exagero, a hipérbole, uma figura de linguagem inventada na confluência do Capibaribe com o Beberibe. Os dois rios que se juntaram, óbvio ululante, para formar o Oceano Atlântico.
Nelson, menino nascido na cidade do Recife em 23 de agosto de 1912 e falecido no Rio de Janeiro no dia 21 de dezembro de 1980.
Como digo hoje para a rede “Aqui”, os jornais populares mais vendidos no Brasil, mesmo quando a gente não sabe, está citando Nelson Rodrigues.
Foi nosso maior frasista e dramaturgo. Perto dele William Shakespeare, aquele inglês do tempo do onça que escreveu Romeu e Julieta, não passa de um palhaço de circo mambembe.
Não há um acontecimento no Brasil em que alguém não se lembre de Nelson. O mais desmemoriado dos brasileiros sempre há de citar uma referência.
Repito: repare no que aconteceu ontem no jogo Santos 3×2 Corinthians. Um clamoroso impedimento de três jogadores do Peixe.
Simpatizante do maior time de todos os tempos, o alvinegro praiano, de imediato pensei: se o videoteipe era burro (frase do centenário Rodrigues), o tira-teima global é jumento. Não foi nada irregular, embora tenha sido.
Tio Nelson gritou a sua célebre sentença em um jogo em que o Fluminense, seu time do coração, havia sido igualmente beneficiado.
Só Nelson Rodrigues salva a idiotice pátria.

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