Thiago Arantes
18/09/2012 | 12h09


Não houve cena que me chamasse mais a atenção na derrota do Palmeiras por 2 a 0, contra o Corinthians, no domingo. Sentado em um dos camarotes do Pacaembu, o goleiro Marcos olhava para o campo como se procurasse algo perdido. 

Olhava mas não via, apenas olhava, tentando atravessar com sua santidade os limites do estádio, buscando no passado alguma lembrança, alguma fagulha de esperança que lhe fizesse acreditar que, sim, é possível.

"Deu pena", disse alguém. Que logo ganhou adesões. "Nossa, que dó do Palmeiras". E no Twitter "Gente, coitado do Marcos, coitado do Palmeiras". 


Houve quem dissesse com ironia, houve que falasse de coração. Mas nessas horas, a compaixão dos rivais é descartável, é desnecessária, é apenas mais um passo rumo ao abismo. 

Agência Estado
Paulinho impede Luan de ir para cima de Romarinho no clássico Palmeiras x Corinthians
Paulinho impede Luan de ir para cima de Romarinho 

As reações foram imediatas. Os palmeirenses se dividiam entre xingar os jogadores, fazer contas para evitar o rebaixamento e reclamar - da arbitragem, do vento, do sol, da chuva. E dos que têm dó, misericórdia, comiseração. 


Talvez seja uma minoria, talvez sejam meus amigos não-palmeirenses que são estranhos demais. Mas não se pode ter dó de um time que está à beira do abismo. Quem colocou o Palmeiras lá foi o próprio Palmeiras. Não houve escândalos de arbitragem, pontos perdidos, gatos-Hiroshis ou manipulação de resultados. 


O Palmeiras começou o campeonato com zero ponto, empatado com todos os outros times. Se cair, não é por injustiça ou por conjecturas extraterrestres. Não há um ventriloquo demoníaco que paira sobre os jogos do alviverde e, imponente, muda os resultados dos jogos.


O Palmeiras está perto do rebaixamento por méritos próprios - "méritos". E os torcedores dos outros clubes têm de fazer o mesmo que os palmeirenses fariam diante de um rival nas mesmas condições. Avacalhem, zoem, façam paródias, colem jornais nas paredes, mandem mensagens impublicáveis para os amigos, gastem o tutorial do PaintBrush para fazer montagens. Dêem ao futebol a graça da provocação, da brincadeira, essa graça que se perde em conflitos e brigas que nada têm a ver com o esporte.


Corintianos, sãopaulinos, santistas, lusitanos, juventinos, marcianos, de São Paulo, do Rio, do Brasil e do Mundo. Não tenham dó do Palmeiras. Odeiem o Palmeiras. Odeiem com todas as forças, torçam contra, desejem que o time sangre em sofrimento, que sofra cada minuto deste calvário que ele mesmo se impôs.


Entre tantas contas elevadas ao cubo e logarítimos da raiz quadrada do infinito, não há números complexos: 


Se o Palmeiras cair com a simpatia, pode ser o início do fim.


Mas, se conseguir escapar contra o ódio de todos, será um recomeço.